Thrash Metal: tudo que você precisa saber sobre o gênero

Thrash Metal: tudo que você precisa saber sobre o gênero

Anthrax, uma das bandas do Big Four, grupo de bandas do Thrash Metal
Anthrax em ação! Os pioneiros do Thrash Metal Nova Iorquino

Era o início da década de 80. Nesse período, um bando de moleques desajustados e espinhentos da Bay Area (que cresceram ouvindo o bom e velho Rock Clássico no Sabotage do Sabbath) resolveu colocar em caldeirão borbulhante riffs velozes, uma atitude transgressora juvenil, cerveja e muita, muita violência. E cerveja, claro. E foi dessa miscelânea de energias caóticas e anárquicas que, com muito sangue nos olhos, o Thrash Metal viu sua gênese emergir.

O Thrash Metal é uma lição de violência. Filho bastardo da New Wave Of British Heavy Metal (aquela famosa sigla que sempre nos confundimos na hora de escrever), o gênero foi uma potencialização americana do que tinha sido feito alguns anos antes no Reino Unido por bandas como Diamond Head, Tygers Of Pan Tang e Samson.

A velocidade das guitarras em “Phantom Of The Opera” do Iron Maiden não era mais suficiente. O peso de “Welcome To Hellr” do Venom já não bastava. Bandas como Exodus, Slayer, Testament e óbvio, Metallica, elevaram o Metal para um patamar jamais ouvido até o momento.

Então vista o seu colete de patchs, coloque o boné do Suicidal Tendencies e pegue uma cerveja. Afinal, agora vamos entrar com o pé na porta e soco na cara pela história do Thrash Metal!

O Thrash Metal e o Carminium

Mas antes de falar da história, uma curiosidade: não é que o som que começou a se desenvolver na Bay Area, California chegou até as terras escondidas e distantes do subúrbio do Rio de Janeiro?

A Carminium, por mais que esteja com os dois pés no Rock Clássico, também conta com grandes influências do Thrash Metal. Principalmente quando se trata de presença de palco, quem já nos viu nos palcos sabe haha.

Inclusive, o single Lady Coldness originalmente foi composto para um projeto meu (para quem não sabe, finjo que toco baixo na Carminium) de Thrash, obtendo uma roupagem mais direcionada para o Heavy Tradicional posteriormente.

A História do Thrash Metal

Antes de qualquer coisa, devemos lembrar o básico e óbvio: década de 80 não existia Spotify, Deezer, MySpace ou Napster Lars não aprovou essa parte do texto, apaga. Dessa forma, o compartilhamento de músicas e informações sobre bandas era realizado, basicamente, no bom e velho boca a boca e no circuito de fanzines/trocas de álbuns.

As capas de bandas britânicas que muitas vezes flertavam com o sobrenatural naturalmente chamavam a atenção dos moleques metaleiros (e pioneiros do Thrash Metal) nas lojas de discos.

Bandas como Venom, Iron Maiden, Saxon e Diamond Head enchiam os olhos da garotada da época. E isso, por sua vez, servia como um empurrão para esses meninos levantarem a bunda do sofá e procurarem outros que também curtiam o mesmo tipo de som.

Existia uma comunidade, uma união. E foi nesse cenário musical efervescente que surgiu o amor dos adolescentes americanos pelo som rápido e pesado que gritava na Inglaterra.

Além da clara referência da NWOBHM, o Thrash Metal também herda características advindas do Hardcore e, pasme, até mesmo do Queen! Segundo a lenda (e segundo as palavras de James Hetfield. Se ele falou, tá falado), Stone Cold Crazy, do álbum Sheer Heart Attack, 74, foi o primeiro registro do Thrash Metal gravado.

Thrash Metal nos anos 80 – Bonded By Blood: Agindo como um maníaco!

Riffs velozes com palm mute, bumbo duplo comendo solto e muita agressividade. A técnica de bandas como o Diamond Head mesclada com a velocidade do Motörhead. O Thrash Metal surgiu para o universo em forma de chicotadas sonoras e violência.

E é claro que alguns nomes foram seminais para o surgimento do embrião dessa comunidade que emergia. Não podemos falar de Thrash Metal sem citar o fundador da gravadora Metal Blade, Brian Slagel.

Afinal, ele produziu no ano de 1981 a coletânea Metal Massacre. Coletânea essa que, em sua última faixa, contava com a primeira gravação ever oficial de uma bandinha que não sei se vocês conhecem. Um tal de Metallica com o single “Hit The Lights”.

Além do Brian Slagel, um casal também foi extremamente importante para o desenvolvimento do Thrash Metal. Jonny e Marsha Zazula, fundadores da Megaforce Records, acreditaram no que estava rolando e praticamente adotaram os quatro bebuns juvenis do Metallica (o que rendeu algumas garrafas de vinho quebradas e destruição na casa do casal).

E foi com o auxílio de Jonny e Marsha que, em 25 de julho de 1983, o Metallica lançou seu debut, Kill ‘Em All, pela Megaforce Records. O resto é história.

METALLICA

Ok, existem controvérsias sobre o Metallica ter sido A pioneira quando o assunto é Thrash Metal. Alguns defendem que a detentora desse título é a canadense Exciter com o álbum Heavy Metal Mania.

Outros afirmam que o Exodus iniciou de fato o movimento por ter sido fundada em 1979. Mas fatos são fatos: o Kill ‘Em All foi o primeiro álbum verdadeiramente de Thrash Metal a ser lançado.

Alcoholica, apelido do Metallica (ícone do Thrash Metal)
Alcoholica: revisto e revisitado

O Metallica entre 1982 e 1986 era literalmente uma máquina de fazer merda, som pesado e beber. Tanto que a própria banda aderiu a reputação de serem cachaceiros e adotaram oficialmente a alcunha proposta por um fã, a “Alcoholica”. The young metal attack elevado à enésima potência.

Eu sou meio suspeito para falar sobre o Metallica. É minha banda favorita que já me rendeu até uma tatuagem em homenagem ao …And Justice For All. Mas me blindando de opiniões pessoais: convenhamos, os três primeiros álbuns da banda foram providenciais para o desenvolvimento do Thrash Metal.

No período entre 1983 e 1986 o Metallica foi sinônimo do gênero. Principalmente a partir do Ride The Lightning, onde a maturidade musical e lírica da banda se expandiu, o Metallica trilhou caminho até chegar em seu ponto máximo criativo: o melódico, pesado e inteligente Master Of Puppets de 1986.

Encabeçados pelo gênio, mestre, Deus supremo do universo Cliff Burton (precocemente falecido em um acidente de ônibus em 86), o Metallica conseguia unir com harmonia ímpar os riffs com down strokes insanos tocados por Mr. Hetfield junto das melodias bem trabalhadas e maduras.

Conseguimos perceber essa dinâmica entre peso/melodia com perfeição ao analisarmos, por exemplo, o Ride The Lightning de 84. O disco nos oferece ao mesmo tempo:

  • Fade To Black, uma Power Ballad lindíssima com belas passagens de violão e um solo de arrancar lágrimas de qualquer marmanjo;
  • Fight Fire With Fire, a podreira extremamente pesada e com o vocal beirando o gutural de James;

Com a morte do Cliff, o Metallica foi enveredando cada vez mais para longe do Thrash Metal de origem. Se isso é considerado algo negativo ou positivo, depende da perspectiva.

Mas o fato é que o Metallica, principalmente nos primórdios, fazia você sentir o gosto de sangue na boca ao ouvir. E muito desse gosto deve-se a um cara. Um cara que, apesar de problemático, arruaceiro e com sérios problemas com drogas, era um Deus vivo do Thrash Metal.

Um cara chamado Dave Mustaine.

MEGADETH

Eu não consigo imaginar a densidade do ódio acumulado no peito de Dave enquanto planejava sua vingança dentro do ônibus que seus então ex companheiros de banda o haviam colocado. Sumariamente expulso do Metallica. Sem explicações, sem cerimônias.

E todo esse rancor, sede de sangue e vontade de fazer um som mais rápido e mais agressivo que sua antiga banda foi perfeitamente colocado para fora nas primeiras notas do primeiro álbum do Megadeth, o “Killing Is My Bussiness… and Bussiness Is Good!” de 85.

As primeiras notas do álbum, uma introdução no piano meio Tocata and Fugue in D Minor de Bach, já emanam uma energia pesada. Em todos os sentidos. Você consegue sentir o cheiro do ódio ao ouvir a faixa de abertura, “Last Rites/Loved to Death”. Thrash Metal até dizer chega.

O Megadeth nessa época foi uma ogiva prestes a ser detonada. A dupla de Daves (Mustaine e Ellefson) conseguiu criar uma entidade do Thrash Metal. Explosivo, técnico, rápido, cirúrgico. Liricamente era uma mistura de assuntos políticos e sociais com uma moderada (porém ótima) dose de ocultismo e espiritualidade.

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Durante os dois primeiros álbuns, o já citado Killing Is My Bussiness e o apoteótico “Peace Sells… But Who’s Buying?” de 86, o Megadeth contou com (na minha singela opinião) sua formação mais matadora de sua história, depois da clássica década de 90 (que é assunto para depois).

Gar Samuelson e Chris Poland, músicos são conhecidos pela linguagem robusta herdada do Jazz Fusion. Ambos contribuíram para transformar o som do Megadeth em algo mais enxuto e requintado.

Infelizmente, por motivos de junkiezisses e drogas (que aliás, fazia parte ativamente do cotidiano da banda), os dois foram expulsos. Logo, não gravaram o último álbum da década lançado pelo Megadeth, o ótimo “So Far, So Good… So What?” de 88. Este, por sua vez, contou Jeff Young e Chuck Behler, guitarra e bateria respectivamente.

E parece que a expulsão de Gar e Chris abriu margem para as folclóricas demissões de membros e mudanças de formações que o Megadeth já teve. Desde o nascimento da banda, centenas de músicos de alto escalão passaram por lá.

Inclusive, um deles tocou em cinco shows antes da gravação do primeiro disco. Era um tal de Kerry King que decidiu abandonar Mustaine e companhia para focar em sua banda principal: o Slayer.

SLAYER

Lembro até hoje das palavras do meu saudoso amigo Carlos Bilinho, que esteja em paz, sobre seu primeiro show do Slayer na vida. “Bicho… eu achei que estivesse no inferno”.

Seis anos depois desse relato que ficou guardado no meu subconsciente, pude ver com meus próprios olhos e sentir aquela energia que só um show do Slayer tem. Eu fui ao inferno.

Pense na temática do Venom. Isso, aquela coisa de sangue, sacrifício, satã, diabo, demônio. Agora misture com elementos de Heavy Tradicional na maior vibe Mercyful Fate (inclusive os agudinhos). Acrescente mais peso. Um pouco mais. Temos o Slayer.

Fundado em 81 na Califórnia, o Slayer é, sem dúvida alguma, a faceta mais pesada do que chamam de “Big Four” do Thrash Metal (Metallica, Megadeth, Slayer e Anthrax). Nos primeiros anos, ainda inspirados por bandas como o Iron Maiden, Tom, Kerry, Jeff e Dave ainda faziam um som com mais influências do NWONHM. Eles até usavam blusas de listrinha (teu passado te condena, senhor Kerry King)!

Mas foi com o surgimento avassalador do Venom em terras norte-americanas que o quarteto californiano definiu um conceito e uma sonoridade. E fortemente influenciado por toda essa malvadeza trazida por Cronos e companhia diretamente da Terra da Rainha, o Slayer lançou seu debut em dezembro de 83.

Gravado pela Metal Blade e seu boss Brian Slagel (lembram dele?), “Show No Mercy” é diabólico, visceral e bem… não exatamente original. As influências estão claras até demais no decorrer das dez músicas. O que não quer dizer que não é um bom registro, apenas que estavam dando o primeiro passo em uma evolução sangrenta.

Os dois trabalhos sucessores, o EP Haunting the Chapel de 84 e Hell Awaits de 85, deram mais personalidade e cara própria para o Slayer. Com verdadeiras pedradas sonoras que perduraram até o fim da banda em 2019, esses dois registros foram essenciais para o Slayer chegar em seu Magnum Opus e reinar em sangue.

“Reign In Blood” é mitológico. Uma obra não apenas do Thrash Metal, mas do Rock N’ Roll em geral. Considerado pela Kerrang! como o álbum mais pesado de todos os tempos, o disco é uma panteão de riffs inacreditavelmente velozes da dupla Jeff e Kerry. Isso além de linhas de batera frenéticas de Dave e vocais furiosos de Mr. Tom Araya. Uma entidade do gênero.

E para fechar bem a década, os caras ainda lançaram o sensacional “South Of Heaven”, 88. Um álbum mais cadenciado (Tom e sua turma conheceram uma palavrinha chamada “DINÂMICA”), em comparação com os anteriores, mas ainda assim um clássico do Thrash Metal.

ANTHRAX

Levando em conta que o Metallica abandonou o gênero em 88, o Anthrax é com certeza minha banda de Thrash Metal favorita. Isso além de ter sido responsável pelo melhor mosh pit da minha vida. Então FAVOR::::::: não espere imparcialidade aqui.

Desde o primeiro álbum, o “Fistful Of Metal” de 84, na contramão das demais bandas do Big Four. Esse fator talvez motive as eventuais discussões sobre o “”merecimento”” do Anthrax em estar no quarteto

Afinal, os nova iorquinos vieram com uma proposta diferente do habitual. Com um Thrash Metal mais calcado em bandas clássicas como o Rainbow e o Deep Purple, o Anthrax elevou o nível das coisas quando falamos de vocalistas do gênero.

Joey Belladonna, o nativo americano mais querido do metal junto com o Chuck Billy, veio de uma escola totalmente clássica. Ouvia Dio, Ian Gillan. Na verdade, ele não fazia a menor ideia sobre que caralhos era o Thrash Metal antes de integrar a banda.

Belladona era, sobretudo, um vocalista de Heavy Metal que caiu de paraquedas no meio de uma banda cheia de malucos que tocavam música extremamente rápida. E essa bagagem mais Heavy ficou muito clara logo em seu disco de estreia pela banda, o “Spreading The Disease” de 85.

Com muitos power chords intrincados de Scott Ian, palhetadas frenéticas e linhas melódicas mais técnicas do que as demais banda contemporâneas e conterrâneas, o álbum foi um divisor de águas e preparou terreno para o Anthrax chegar em seu melhor trabalho até hoje.

Se um ser de dimensões extraterrestres aparecer na minha frente e pedir que eu indique um, apenas um álbum que defina com perfeição (algo totalmente plausível de acontecer), o crème de la crème do Thrash Metal, com toda certeza a minha escolha seria “Among The Living” de 87.

Esse álbum é exatamente o que o Thrash Metal deve ser. Extremamente enérgico e que te faz sentir vontade de sair socando tudo o que vê pela frente. O tipo de música perfeito para mosh pit.

De Among The Living, faixa de abertura, passando pelo clássico absoluto, e presença mais que garantida nos shows até hoje, Caught In A Mosh (que aliás:::: que senhora linha de baixo, hein, Mr. Frank Bello?) até chegar em Imitation Of Life. É tudo avassalador.

O que me encanta no Anthrax, além de obviamente o som, é a forma que eles próprios se encaravam. Isso porque muitas outras bandas da época se preocupavam em passar uma imagem de boladonas com a vida para perpetuarem a fama de más (já diria o grande Erasmo).

Já no Anthrax… o Charlie Benante subia em palco de samba-canção colorida; o Dan Spitz com adesivos das Tartarugas Ninja em sua Jackson e eles tacavam fogo no little park tocando um “rap thrash metal” escrachado e debochado chamado “I’m The Man”. E foda-se, é isso mesmo. Já falei que amo essa banda?

Ainda na década de 80 eles nos presentearam com o fantástico “State Of Euphoria” de 88. Um clássico absoluto que marcou o Thrash Metal com petardos da estirpe de “Who Cares Wins”, “Be All, End All” e da manjada mas nunca saturada versão da “Antisocial”.

EXODUS

“Violência” é a palavra que sempre vem de imediato na minha cabeça quando escuto falar de Exodus. E não é para menos. Crias da Bay Area, nata do Thrash Metal, a banda incentivava atitudes violentas e agressivas do público nos shows.

Quanto mais bruto o mosh pit, melhor. Era como uma sinfonia caótica regida pelo maestro da agressividade, o primeiro frontman e um dos Deuses do panteão do Thrash Metal: Paul Baloff.

Uma banda que lança como primeiro trabalho um álbum da estirpe de “Bonded By Blood” em 85 não precisa nem de muitas descrições. Um álbum que já nasceu clássico absoluto do Thrash Metal e que ajudou a moldar, montar e desenvolver as particularidades de todo um estilo.

Contando com os riffs insanos do, na minha opinião, melhor guitarrista de Thrash da época (dividindo o posto com o demônio do Alex Skolnick), senhor Gary Holt, o álbum é literalmente uma lição de violência. Tudo capitaneado pelo já citado Paul Baloff que infelizmente se ateve a gravar apenas o debút.

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Ele foi substituído no álbum seguinte, “Pleasures of The Flesh”, pelo carismático Steve Zetro Sousa. Este que, mesmo com indas e vindas, permanece até hoje na banda.

Em 89, o Exodus ainda lançou o petardo “Fabulous Disaster”, 50 minutos de pura porrada nas oreia sem pena. Ele ainda conta com músicas intocáveis da banda, vide a puta faixa com um dos melhores refrões do Thrash Metal: “The Toxic Waltz” .

E posso dizer por experiência própria sobre essa questão do conceito da banda estar literalmente calcado na violência. O primeiro Mosh Pit da minha vida foi em um show do Exodus quando tinha 16 aninhos de inocências.

Assim como os do Slayer, as apresentações do Exodus continuam enérgicas e extremamente violentas até hoje. A idade chega mas o ímpeto por brutalidade permanece intacto, intocável e irreparável. Respeita os coroas

TESTAMENT

Eu poderia muito facilmente escrever separadamente sobre outras centenas de bandas que foram vitais para o Thrash Metal e lançaram álbuns incríveis na década de 80. Só que provavelmente esse texto iria ficar maior que o primeiro testamento (piadas humor) e ninguém iria terminar de ler (aliás, se você chegou até aqui, escreve um comentário e segue a Carminium no Instagram, vai te custar nada).

Só que na boa? Não iria me perdoar se deixasse de dar uma atenção um pouco maior para o Testament. Banda que chegou no rolé um pouco atrasada mas mesmo assim desempenhou um importantíssimo papel para o Thrash Metal.

O Testament lançou álbuns seminais na década de 80 que são mais do que dignos de nota. “The Legacy”, “The New Order” e “Practice What You Preach”, 87, 88 e 89 respectivamente, são preciosidades da música pesada americana.

Para esse subtítulo não ficar maior que a quantidade de vezes que o Mustaine demitiu alguém do Megadeth, vou listar alguns álbuns essenciais do Thrash Metal lançados na década de 80 que você DEVE ouvir:

  • Nuclear Assault – “Game Over” (1986)
  • Death Angel – “The Ultra-Violence” (1987)
  • Overkill – “The Years Of Decay” (1989)
  • Sacred Reich – “Ignorance” (1987)
  • Annihilator – “Alice In Hell” (1989)
  • S.O.D – “Speak English Or Die” (1985)
  • Exciter – “Heavy Metal Maniac” (1983)
  • Hirax – “Raging Violence” (1985)

Thrash Metal Pós-80’s – Fucking Hostile: Recuse, resista!

Chegamos naquela época da música contemporânea que todos estamos cansados de saber como foi e não preciso ficar aqui explicando. Basicamente, a década de 90 chegou cortando todos os excessos possíveis no Rock com o Grunge (um bom exemplo é o Superunknown do Soundgarden).

Naquele momento, a tônica da música popular se concentrava em riffs mais arrastadões e uma atmosfera totalmente depressiva. E se engana quem acha que o Thrash Metal não respirou no pós 80.

O gênero não só manteve a respiração como também deu importantes passos para a evolução do estilo. Isso seja falando de bandas já consagradas ou de sangue novo. Refuse, resist!

Ok, ok. Muita gente se desvirtuou do gênero na década e o exemplo mais claro é o Metallica. A banda após lançar o incrível e multi patinado Black Album (que apesar de puta álbum, passa longe do Thrash Metal) apareceu com a questionável dupla Load e Reload.

Mas a resistência estava ali, gravando clássicos que se perpetuam até hoje como trabalhos intocáveis do Thrash Metal. O melhor exemplo é o fora de série, o foda, o insubstituível, o gigante “Rust In Peace”.

Este é considerado até hoje como o melhor álbum lançado pelo Megadeth. E claro, representa o início de uma sequência de ótimos trabalhos produzidos pela formação Mustaine, Ellefson, Menza e Friedman.

Mas vamos combinar: foi na década de 90 que o Thrash Metal passou por reformulações e adotou mais o groove na composição das músicas. Contando com dois nomes de muito peso encabeçando essa renovação, Pantera e Sepultura, surgiu o Groove Metal.

E é impossível falar de metal no geral nos anos 90 sem citar as duas bandas. O Pantera foi aquela que nasce uma vez em cada mil anos. Vindo do Glam Metal e se desenvolvendo ao decorrer da década, os caras marcaram a história.

Com álbuns que aliavam groove, riffs inimaginavelmente incríveis de Dimebag Darrell, uma cozinha concisa e extremamente intrincada de Rex Brown e Vinnie Paul e vocais furiosos de Phil Anselmo, o Pantera foi sinônimo de Thrash Metal nos anos 90.

Você consegue facilmente notar o sangue nos olhos dos Texanos aumentar a cada álbum desde o “Cowboys From Hell”, 91. A cada novo registro, a banda deixava a música mais maciça e densa, sem nunca esquecer daquele balanço gostosinho que o groove metal trouxe.

Aliás, sabe aqueles breakdowns que rolam nos shows de metalcore que tu vai? Então, agradeça ao Pantera.

E na boa, vamos combinar: sim, TODOS da banda eram músicos de mão cheia, mas a estrela que brilhava mais forte era a do falecido Dimebag. Sempre fazendo sua Dean rugir enquanto tocava solos que misturavam aquele espírito “Randy Rhoadzista” com uma pegada Blueseira pra caralho.

E o Sepultura…. bem, o Sepultura dispensa maiores apresentações. Banda de rock nacional dos anos 80 seminal para o desenvolvimento do Thrash no Brasil e que é ainda hoje a mais conhecida do país lá fora.

Apesar de ter surgido nos anos 80 e fazendo um Thrash/Death raíz e nervoso (inclusive, meu favorito é dessa época, o Beneath The Remains), a banda se tornou enorme nos anos 90.

A década abriu da melhor forma possível com o som veloz, pouco inventivo, mas ainda assim clássico do Arise. Depois, passou pelo início de uma reformulação musical com o Chaos A.D, onde começaram a inserir mais elementos percussivos e tribais. Logo após, tudo culminou em um dos marcos do Rock Nacional, o Roots.

Certa vez, a Sharon Osbourne disse que o Sepultura seria um novo Metallica caso estivesse continuado com a formação clássica Andreas, Max, Igor e Paulo. Isso é uma discussão muito complexa (talvez até tema de outro post), mas fato é que o Sepultura em 96 estava andando em meio de gigantes e inspirando meio mundo de gente.

Thrash Metal Alemão – Pleasure To Kill: A devastação eterna germânica

Cara, é sério mesmo que você pensou que eu fosse realmente escrever um texto de QUATRO MIL PALAVRAS sem reservar um lugarzinho especial para o Thrash Metal alemão? Tá de sacanagem, né?

Ainda mais pesado e maléfico que os americanos, a cena alemã seja talvez a mais respeitada e cultuada depois da Bay Area. E quando ouvimos falar de “Thrash alemão”, é inevitável a associação com, especialmente, quatro bandas: Kreator, Destruction, Sodom e Tankard.

Capitaneada pelo vocalista e guitarrista Mille Petrozza, o Kreator foi uma das expoentes mais notáveis da chamada “German Thrash Explosion”. A banda, que iniciou a carreira com o nome de “Tormentor” e fazendo um Black/Death Metal, lançou seu primeiro disco em 85, o petardo sonoro “Endless Pain”.

Ainda na fase de ouro da banda, a década de 80, o Kreator lançou uma série de clássicos que ficarão marcados na história do Thrash Metal para sempre. Vide o próprio début, o “Terrible Certainty” de 87, o Extreme Agression de 89 e, é claro, o clássico dos clássicos “Pleasure To Kill”, de 86.

I love the smell of napalm in the morning… elevando as coisas para uma faceta ainda mais pesada e bruta (isso era possível?). O Sodom chegou trazendo uma sonoridade ainda mais extrema que beirava os ídolos do Venom em vários momentos.

Com os vocais guturais de Tom Angelripper e riffs cheios de palhetada em tremolo (isso, aquele som esquizofrênico que posteriormente ficou bastante popularizado pelo Black Metal norueguês), o Sodom nos brindou com álbuns maravilhosos que contavam com a tônica lírica envolvendo assuntos militares e bélicos.

Seu maior clássico, o “Agent Orange”, foi o álbum de Thrash Metal mais vendido da Alemanha, vendendo mais de 100 mil cópias no país. Nada mal para o gênero, né?

Vamos combinar: existe uma certa mística quando falamos de Power Trio. É muito difícil acharmos um trio que não esteja entre o nível “foda” e “espetacular”. E essa tese que acabei de inventar na minha cabeça também se aplica com o Thrash Metal.

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Beleza, o Destruction passou por uma boa fase tocando como quarteto. Mas o auge da banda, aquele período entre o “Infernal Overkill” de 85 e o lendário “Eternal Devastation” de 86 contou com a clássica formação “baixo, batera, guitarra”.

Esse último álbum, inclusive, foi um marco enorme na história do Thrash Metal alemão. Eu costumo associar a sonoridade do registro com uma faca muito afiada rasgando algum pedaço de carne (se humana ou não, depende de como seu senso de psicopatia está hoje).

Sendo um disco que sabia dosar muito bem as dinâmicas usadas em cada momento, o Eternal Devastation tinha espaço para introduções calmas e dedilhadas, riffs estridentes, agudos na escola King Diamond e muito, muito bom gosto.

Assim como o Anthrax é minha banda de Thrash favorita do Big Four americano por justamente não se levar a sério, o Tankard segue pela mesma linha quando falamos do equivalente alemão.

Cachaceiros de mão cheia e auto intitulados de “Kings Of Beer”, a banda não tem mimimi. O som é aquele Thrash Metal sem muitas inovações ou firulas. É aquele som rápido que conhecemos e isso aí.

O que não quer dizer que não seja divertido pra caralho ouvir trabalhos incríveis como “Chemical Invasion” de 87, “Zombie Attack” de 86 e é claro, um dos melhores álbuns de Thrash Metal dos anos 10, o “R.I.B.” de 2014.

Tankard é aquela banda perfeita para ouvir junto com os amigos com um copo de cerveja na mão. Saúde! Cheers! Skol! Salúd!

Thrash Metal no Brasil – Beneath The Remains: Respeite a existência ou espere resistência!

É antropológico. O brasileiro é um povo sofrido pelas mais diversas questões. E na boa, quer cenário mais ideal para o Thrash Metal emergir do que um país com habitantes cheios de ódio no coração? E falar de Thrash Metal no Brasil é falar de Minas Gerais na década de 80.

Além do já citado Sepultura, a cena de Belo Horizonte contou com bandas providenciais para o assentamento do gênero no país. Com o apoio da mitológica Cogumelo Records, bandas como Sarcófago, Chakal, Overdose e Sextrash se consolidaram como medalhões do gênero apesar de não terem conseguido os holofotes que Max e cia conseguiram.

E não foi apenas BH que teve sua parcela de pioneirismo no gênero em terras brasileiras. Os cariocas do Dorsal Atlântica e os paulistas do Korzus já na primeira metade da década de 80 estavam fazendo um puta barulho e levando o Thrash Metal para a juventude do sudeste.

Puxando a lupa um pouquinho mais pra frente, a década seguinte também nos brindou com bandas incríveis. Com enormes influências do Death Metal, Claustrofobia, Torture Squad e Krisiun (nesse caso, ainda mais influências de Death) são até hoje aclamadas e veneradas por onde passam, inclusive internacionalmente. E claro, continuam lançando álbuns absurdamente fodas.

O novo milênio também foi responsável por dar sangue novo para o gênero dentro do Rock Nacional. Trazendo um pessoal da estirpe de Jackdevil, Deathraiser e Woslom, a década de 2000 rendeu ótimos frutos.

O Violator, por exemplo, é merecidamente reverenciado no meio. Mesmo sendo uma banda relativamente “recente” (bem, em comparação com as bandas de 80, não deixa de ser), o Violator atingiu um status quo de mestres do Thrash Metal, lançando clássicos imediatos do estilo como o ep “Annihilation Process” e o full lenght “Scenarios Of Brutality”.

Mas e o Nervosa, Matheus? Cadê o Nervosa nesse post? O Nervosa tá VOANDO ALTO PRA CARALHO! As meninas estão atingindo marcas tão incríveis que até emociona. Turnês na Ásia e Europa, abertura do dia do metal no Rock In Rio (que aliás, eu estava lá e foi surreal) e cara………. atração confirmada no WACKEN 2020!

Tu sabe o quão grandioso está sendo o trabalho que a Fernanda, a Prika e a Luana estão realizando? Orgulho, muito orgulho define.

Aqui pelo Rio também estamos muito bem de Thrash Metal, obrigado. Tanto os veteranos da Forkill, Savant, Hicsos e Prophecy quanto a ascendente Hellming representam muito bem a cena carioca e provam por A+B que a cidade maravilhosa foi, é e sempre será um celeiro de bandas de Thrash.

Thrash Metal na atualidade – Fast, Loud, Death: Ponto Sem Retorno!

Digo por experiência própria. Não existe nada mais empolgante em termos de inspiração musical do que ver uma banda de moleques um pouco mais velhos que você tocando um Thrash Metal explosivo e de qualidade.

Quando esse rapaz que vos escreve passava pelo ápice de sua fase Zé Coletinho aos 14 anos de idade, uma banda em especial o deixava maluco: os finlandeses do Lost Society.

Ver aquela molecada de 19 anos tocando um som daquele jeito era uma inspiração tão foda pra mim que continua reverberando até hoje, seis anos depois (afinal, ainda me visto igual os caras durante a época do Terror Hungry). Os quatro finlandeses representaram apenas o pontapé inicial de uma relação de amor minha com a nova onda do Thrash Metal.

Além do Lost Society, uma banda um pouquinho mais antiga (formada em 2004) também figura sempre nas listas das melhores da nova geração do Thrash Metal. Diretamente do Colorado, o Havok traz em seus discos um som pesado e com um primor técnico absurdo.

Em 2011 eles lançaram o álbum que já nasceu clássico contemporâneo do gênero, o “Time Is Up!”, considerado como melhor trabalho até então

Voltando para a Europa, talvez a banda de Thrash Metal que mais escuto atualmente venha da Itália. O Ultra Violence (que aliás, tenho que registrar::: tive minhas down strokes elogiadas pelo próprio guitarrista da banda depois de ter enviado um vídeo tocando Spell Of The Moon no Instagram insira seu “foda-se” aqui) faz uma porrada sonora que mescla os bons e velhos elementos da velha escola com influências do metal mais moderno (dalhe breakdown), abusando de riffs velozes, blast beats e berros incríveis do pequeno grande Loris Castiglia.

Com fortíssimas inspirações do Metallica na época do Ride The Lightning, os ingleses do Evile emulam um Thrash Metal com facetas mais voltadas para o Heavy Tradicional.

Usando e abusando com muito bom gosto de lindas passagens acústicas (sério, escute “In Memoriam”) e dobras de guitarra super trabalhadas, o Evile levanta a bandeira da Inglaterra (que por algum motivo, não é um dos países mais tradicionais do gênero) com propriedade de gente grande.

Eu poderia citar três mil bandas que representam muito bem o Thrash Metal na última década. Mas para não ficas massante, me ative apenas a escrever as que mais me marcaram. Vou deixar uma lista com alguns álbuns incríveis que merecem demais a sua atenção, ok?

  • Toxic Holocaust – “An Overdose Death” (2008)
  • Dust Bolt – “Violent Demolition” (2012)
  • Municipal Waste – “The Art Of Partying” (2007)
  • Angelus Apatrida – “Hidden Evolution” (2015)
  • Lazarus A.D – “The Onslaught” (2007)
  • Gama Bomb – “Speed Between The Lines” (2018)
  • Bio-Cancer – “Tormenting The Innocent” (2015)
  • Dr. Living Dead – “Cosmic Conqueror” (2017)
  • Lich King – “Do-Over” (2014)
  • Suicidal Angels – “Bloodbath” (2012)

Ao contrário do que muitos pensam, o Thrash Metal não é apenas tocar riff com a E em palm mute numa Jackson V. O gênero transcende essas definições, passando por subdivisões (que inclusive, eu NÃO ESQUECI DO CROSSOVER! ele merece um post especial, então aguardem), histórias e muita paixão envolvida.

Esse texto mastodôntico é apenas a ponta do iceberg do que essa ramificação maravilhosa, que eu particularmente sou completamente apaixonado, pode proporcionar para uma pessoa.

Poderia dizer que o Thrash esteve presente na maioria dos dias que, quando olho em retrospecto, considero como “os melhores da minha vida”. Por isso sou eternamente grato a caras como Cliff Burton (santificado seja o Vosso nome), James Hetfield, Dave Mustaine, Scott Ian, Gary Holt e tantos, tantos outros.

Bem, vamos parar por aqui, afinal, é bom deixar o melodrama para textinho sobre Radiohead. Aqui, agora, nesse momento, só temos espaço para mosh pit, sangue e violência. THRASH TILL’ DEATH!

Matheus Campos

Quase historiador, entusiasta da obra de Edgar Allan Poe, tiete do John Mayer, hater de cadernos de paisagem e mágicos (nada pessoal) que acredita que "Girls Just Want To Have Fun" deve ser o hino da via láctea. Tenho uma foto com a Xuxa, curto uns filminhos do Ari Aster e tudo que eu faço é pela metade.

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